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04:02 | 27/06/2019
Houve, uma vez, uma mulher que tinha três filhas; a primeira era malcriada e má, a segunda já era bem melhor, embora tivesse os seus defeitos, e a terceira era uma criatura extremamente boa e piedosa.
Entretanto, a mãe era tão esquisita, que preferia, exatamente, a mais velha e não tolerava a mais nova. Por- isso mandava, frequentemente, esta pobre criança à floresta, pensando assim livrar-se dela para sempre, pois acreditava que um belo dia acabaria perdendo-se e não mais voltaria para casa.
Mas o Anjo da Guarda, que acompanha sempre as crianças piedosas, nunca abandonava a pobrezinha e guiava-a sempre pelo caminho certo. Um belo dia, porém, o Anjo fingiu não estar atento e a menina extraviou-se, não conseguindo encontrar o caminho para sair da floresta.
Sozinha e desamparada, ela foi andando, andando, até ao cair da noite. De repente, avistou uma luzinha brilhando longe, longe; correu naquela direção e chegou a uma choupana pequenina. Bateu na porta, esta logo se abriu; mais além havia outra porta, na qual tornou a bater. Veio abrir um velho de aspecto venerável, e longas barbas alvas como a neve, o qual não era outro senão o próprio São José. Vendo a menina, falou-lhe carinhosamente.
– Vem, minha querida menina, – disse, – senta-te na minha cadeirinha perto do fogo e aquece-te; se tens sede irei buscar um pouco de água cristalina, mas para comer, aqui na floresta, só te posso oferecer algumas raízes; porém terás primeiro que as raspar e cozinhar.
São José deu-lhe um punhado de raízes. A menina raspou-as cuidadosamente, lavou-as muito bem, depois tirou de um embrulhinho um naco de pão e um pedacinho de chouriço que lhe dera a mãe, pôs tudo dentro de uma panelinha e levou-a ao fogo para fazer um mingau. Quando este ficou pronto, São José lhe disse:
– Estou com tanta fome! Queres dar-me um pouco da tua comida?
A menina, muito solícita, deu-lhe uma parte maior da que reservara para si, e esta, com a graça de Deus, chegou para matar-lhe a fome.
Assim que terminaram de comer, São José disse:
– Agora vamos dormir; mas só tenho uma cama. Tu dormirás nela e eu me deitarei no chão sobre a palha.
– Não, não, – responde a menina, – deita-te na tua cama; para mim, acho u palha suficientemente macia.
Mas São José tomou-a nos braços e carregou-a para a cama; depois de rezar as suas orações e agradecer a Deus, a menina adormeceu tranquilamente.
Quando acordou na manhã seguinte, pensou logo em dar bom dia a São José, mas não o viu. Então levantou- se e pôs-se a procurá-lo por toda a casa; ele, porém, havia desaparecido. Nisto, ela viu atrás de uma porta um saquinho cheio de moedas de ouro, tão pesado que quase não podia erguê-lo; e, no saquinho, estava escrito que pertencia à menina que dormira lá naquela noite. Ela pegou o saco e foi correndo para casa, lá chegando sã e salva, e entregou-o à mãe. Esta, então, vendo que a menina lhe entregava todo aquele dinheiro, viu-se forçada a ser boa para ela.
A segunda filha, vendo isso, sentiu vontade de ir, também, à floresta e, no dia seguinte, levando um pão e um pedaço maior de chouriço, que a mãe lhe dera, para lá se dirigiu. Na floresta, aconteceu-lhe exatamente o mesmo que à irmã. Ao cair da noite, foi ter à pequena choupana de São José, o qual lhe deu as raízes para que fizesse o mingau.
Quando o mingau ficou pronto, ele disse-lhe:
– Estou com tanta fome! Dá-me um pouco da tua comida!
A menina respondeu-lhe:
– Vem e comamos juntos.
Depois São José lhe ofereceu a cama, dizendo que se deitaria na palha. A menina, porém, disse-lhe:
– Não, não, vem deitar-te comigo; na cama há lugar para os dois.
Mas São José carregou-a até à cama e foi deitar-se na palha.
Na manhã seguinte, quando a menina acordou c procurou São José, ele havia desaparecido. Ela encontrou atrás da porta um saquinho, de um palmo de comprimento, cheio de dinheiro; e nele estava escrito que pertencia à menina que dormira lá naquela noite.
Ela pegou o saquinho e correu para casa e entregou-o à sua mãe; mas, às escondidas, tirou algumas moedas e guardou-as para si.
Então a filha mais velha, levada pela curiosidade, quis também ir à floresta. A mãe deu-lhe pão, chouriço à vontade e, ainda por cima, um grande pedaço do queijo.
Na floresta, sucedeu tudo como às outras irmãs. Ao cair da noite, exatamente como acontecera com as outras, ela encontrou São José na pequena choupana, o qual lhe deu o punhado de raízes para o mingau. Quando o mingau ficou pronto, São José disse:
– Estou com tanto fome! Dá-me um pouco da tua comida!
– Espera que eu me satisfaça; depois, se sobrar alguma coisa, podes comer.
Comeu quase tudo e São José teve que raspar o fundo da panelinha. Depois o bom velho ofereceu-lhe a cama, dizendo que ele se deitaria na palha. Ela aceiteu mais delongas, deitou-se tranquilamente na cama e deixou que ele dormisse no chão.
Ao despertar na manhã seguinte, São José já não estava lá; ela, porém, não se importou, foi logo procurar o saco de dinheiro atrás da porta. Pareceu-lhe ver qualquer coisa no chão, mas, como não podia discernir bem o que era, inclinou-se paru ver melhor e bateu em cheio com o nariz no objeto. E o objeto ficou grudado; quando ela se ergueu, viu horrorizada que tinha outro nariz solidamente grudado ao seu.
Então desatou a chorar e a gritar, mas sem resultado; sempre e sempre via aquele nariz, que tinha mais de um palmo de comprimento.
Saiu correndo e gritando; nisto encontrou São José; caiu de joelhos diante dele e tanto implorou que ele, apiedando-se dela, tirou-lhe aquele medonho nariz e presenteou-a com dois vinténs.
Quando chegou em casa, a mãe já esperava na porta e lhe perguntou:
– Que presente recebeste?
A menina mentiu-lhe, dizendo:
– Recebi um enorme saco cheio de dinheiro, mas eu o perdi pelo caminho.
– Perdeste-o? – exclamou a mãe: – Então vamos depressa procurá-lo, ainda o acharemos!
Tomou-a pela mão, querendo ir com ela procurar o saco de dinheiro; a menina, a princípio, começou a chorar, dizendo que estava cansada e não queria ir; por fim teve de acompanhar a mãe para ensinar-lhe o caminho, mas. depois de andarem um bom trecho, foram assaltadas por tantas cobras e lagartos que não conseguiram livrar-se.
A menina ruim morreu em consequência de duas mordidas e a mãe, também, morreu pela mordida de uma cobra num dos pés, só porque não soubera criá-la melhor.

 



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