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16:24 | 27/06/2019

Ha uns dois ou três séculos, quando os homens eram mais espertos e astutos do que hoje em dia, numa pequena cidade ocorreu uma história muito estranha.
Um desses corujões, mais conhecidos sob o nome de mochos, apareceu por acaso, altas horas da noite, vindo de um bosque vizinho, e entrou num celeiro; quando amanheceu, não teve coragem de sair do esconderijo com medo dos outros pássaros, que, toda vez que encontram um mocho, se põem a gritar de modo horrível.
Logo pela manhã, o criado da casa foi ao paiol buscar um pouco de palha e, ao dar com aquele feio mocho empoleirado lá num canto, levou tal susto que disparou para casa e foi contar ao patrão que havia no paiol um monstro como igual jamais tinha visto em sua vida; um monstro que rolava os olhos nas órbitas e que poderia engolir qualquer um sem a menor cerimônia.
– Eu te conheço bem, – disse o patrão: – a tua coragem é suficiente para correres atrás de um melro no campo; porém, se vês uma galinha morta, não ousas aproximar-te sem um pau na mão. Irei eu mesmo ver que espécie de monstro é esse.
Entrou, valentemente, no paiol e olhou para todos os lados; mas, ao ver com os próprios olhos aquele estranho e horrendo animal, seu susto não foi menor que o do criado. Com dois saltos pulou para fora, correu à casa dos vizinhos e suplicou-lhes que lhe viessem em auxílio contra aquele desconhecido e perigoso animal. Se não o ajudassem e o bicho saísse do paiol onde estava empoleirado, toda a cidade correria perigo.
Com isso provocou medonho tumulto e alarido por todas as ruas da cidade; os habitantes, armados de espetos, de forcados, foices e machados, correram todos como se se tratasse de guerrear sabe lá contra qual inimigo. E vieram, também, os magistrados com o Juiz encabeçando a fila. Na praça do mercado, formaram-se em linha de combate e marcharam destemidamente para o paiol, cercando-o por todos os lados. Então um deles reputado o mais valente de todos, penetrou resolutamente de espeto em riste dentro do paiol; mas voltou imediatamente a correr, pálido como um defunto, batendo os dentes e sem poder proferir palavra.
Mais outros dois arriscaram-se a entrar e não tiveram melhor êxito; por fim, um homenzarrão forte, famoso pelas suas proezas, aventurou-se, dizendo:
– Não é olhando-o apenas que enxotareis o monstro de lá. Aqui é necessário uma ação séria e decisiva.
mas vejo que vos tornastes todos umas melhorzinhas, sem coragem de enfrentá-lo.
Ordenou ao criado que lhe trouxesse a armadura, a espada e a lança; armou-se como um guerreiro. O povo exaltava-lhe a coragem, muito embora temesse pela vida dele.
Mandaram abrir as duas portas do paiol e todos podiam ver o mocho, o qual, nesse interim, havia pousado sobre a trave central. O guerreiro pediu uma escada e encostou-a à trave e, quando começou a trepar, todos os assistentes lhe recomendavam que se portasse com a maior bravura e imploravam para ele a proteção de São Jorge, aquele que matara o dragão.
O guerreiro chegou ao alto da escada, então o mocho percebeu que a coisa era com ele. Atordoado por toda aquela algazarra, aquela gente, aqueles gritos, sem saber onde esconder-se, o bicho ficou tão espantado que começou a revirar os olhos, eriçando as penas, abrindo as asas, batendo o bico, e fazendo ouvir o seu rouco. Hu, hu, hu, hu.
– Dá-lhe, dá-lhe! – gritava o povo ao heroico guerreiro.
– É, mas se estivessem aqui no meu lugar, certamente não gritariam: dá-lhe, dá-lhe! – resmungou o herói.
Para bem da verdade, ele ainda subiu mais um degrau, logo, porém, pôs-se a tremer e desceu quase desmaiado.
Não havia mais ninguém que se atrevesse a correr aquele risco.
– O monstro, – diziam eles, – só com o seu hálito envenenou e feriu mortalmente o mais forte dentre todos; devemos pois arriscar a vida também nós?
Reuniram-se em conselho para decidir o que deviam fazer para que a cidade toda não viesse a ser arruinada pelo monstro. Durante algum tempo as opiniões pareceram-lhe inúteis, até que, por fim, o Burgomestre achou uma solução.
– Eu sou de parecer, – disse ele, – que se indenize com o dinheiro público o dono do paiol, pelo que contém: espigas, palha e feno e depois se deite fogo à construção a fim de destruir o terrível animal. Assim ninguém será obrigado a arriscar a própria vida. Aqui não se trata de fazer economias, e agir com mesquinharia seria injusto!
Todo mundo aprovou a luminosa ideia. E, imediatamente, puseram fogo aos quatro cantos do paiol que logo se incendiou e com ele também se queimou miseravelmente o terrível mocho.
Quem não acreditar, vá se informar.

 



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