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05:52 | 28/06/2019
Houve um pobre homem que tinha doze filhos e precisava trabalhar, dia e noite, para dar-lhes apenas um bocado de pão.
Quando nasceu o décimo terceiro, ele não sabia realmente o que fazer e, na sua aflição, saiu para a estrada a fim de convidar o primeiro que aparecesse para servir-lhe de padrinho. A primeira pessoa que encontrou foi o bom Deus. O bom Deus, que já sabia o que lhe pesava no coração, disse-lhe:
– Pobre homem, causas-me dó; vou batizar teu filho, cuidarei dele e o tornarei feliz neste mundo.
– Quem és? – perguntou o homem.
– Sou o bom Deus.
– Então não te quero para meu compadre, – disse o homem, – tu dás aos ricos e deixas os pobres passando fome.
Isso dizia o pobre homem, porque não sabia que sabiamente Deus distribui riqueza e pobreza. Deixou o Senhor e foi mais para diante. Então, aproximou-se-lhe o Diabo dizendo:
– Que procuras? Se me aceitas para padrinho de teu filho, dar-lhe-ei ouro às carradas e todos os deleites do mundo.
O homem perguntou:
– Quem és tu?
– Sou o Diabo.
– Então não te quero para meu compadre, – disse o homem, – tu enganas os homens e os induzes à tentação.
Continuou andando e logo, com as pernas ressequidas, veio-lhe ao encontro a Morte, dizendo:
– Aceita-me como tua comadre.
– Quem és? – perguntou-lhe o homem.
– Sou a Morte, que todos iguala.
Então, o homem disse:
– Tu és a indicada, porque levas tanto o rico como o pobre sem distinção; serás pois a minha comadre.
A Morte respondeu:
– Tornarei teu filho rico e célebre; quem me tem por amiga, tem o sucesso garantido.
– Domingo próximo será o batizado, – disse o homem; – sê pontual.
A Morte compareceu, pontualmente, conforme havia prometido e portou-se como uma madrinha às direitas.
Quando o afilhado se tornou adulto, apareceu-lhe um belo dia a madrinha, convidando-o a segui-la. Conduziu-o à floresta e, mostrando-lhe uma erva que lá crescia, disse-lhe:
– Aqui tens teu presente de batizado. Vou fazer de ti um médico famoso. Quando fores chamado a atender algum enfermo, eu estarei todas as vezes lá; se me vires à cabeceira do doente podes declarar, francamente, que o curarás; dá-lhe depois um pouco dessa erva e ele ficará bom. Mas, se me vires aos pés da cama, ele pertence-me e tu tens de dizer que qualquer remédio é inútil, que nenhum médico deste mundo o salvará. Livra-te, porém, de usar a erva contra minha vontade: poderás arrepender-te!
O jovem tornou-se o médico mais famoso do mundo. Bastava-lhe olhar para o doente e já sabia se ficaria bom ou se morreria. Assim falavam dele e o povo acorria de toda parte para que atendesse os doentes, e pagavam-lhe tão bem que logo enriqueceu.
Aconteceu que, tendo adoecido o rei, chamaram o médico para saber se era possível curá-lo. Quando o médico se aproximou do leito, viu a Morte aos pés da cama; não havia erva alguma capaz de salvar aquele doente. “Ah, se pudesse, uma vez ao menos lograr a Morte! – pensou ele, – certamente se zangará, mas sou seu afilhado, por esta vez fechará os olhos! Vou arriscar!
Pegou o doente e virou-o na cama, de modo que a Morte ficou do lado da cabeça. Depois deu-lhe a erva e o rei melhorou e logo ficou completamente bom. A Morto, porém, foi á casa do médico, zangada, e, com expressão sombria, ameaçou-o com o dedo, dizendo:
– Tu me lograste; por esta vez deixo passar porque és meu afilhado, mas, se ousares mais uma vez, agarro-te pela gola do casaco e levo-te comigo, ouviste?
Decorrido algum tempo, adoeceu gravemente a princesa. Era filha única do rei e este chorava dia e noite até ficar cego; fez anunciar que quem a curasse casaria com ela e herdaria a coroa. O médico foi ver a doente e, lá chegando, viu a Morte aos pés da sua cama. Deveria ter-se lembrado da ameaça da madrinha, mas a grande beleza da filha do rei e a felicidade de tornar-se seu esposo o deslumbraram de tal maneira que não pensou em mais nada. Nem sequer via a Morte lançando-lhe olhares furibundos, erguendo a mão e ameaçando-o com o punho fechado, nada via. Ergueu a doente e deitou-a com a cabeça para o lado dos pés; depois deu-lhe a erva e logo as faces se lhe tingiram do mais belo rosado e recuperou a vida.
Vendo-se defraudada pela segunda vez, a Morte, a grandes passos, foi ter com o médico, dizendo-lhe:
– Está tudo acabado para ti, agora é a tua vez.
E, com sua mão gélida, agarrou-o tão duramente que ele não pôde resistir-lhe e foi conduzido a uma caverna subterrânea. Lá, viu milhares e milhares de círios enfileirados, ardendo: alguns grandes, outros médios, outros pequenos. A cada instante apagavam-se alguns, acendiam-se outros, de maneira que as chamas pareciam saltitar aqui e acolá num contínuo revezamento.
– Vês, – disse a Morte, são as vidas dos homens: os mais altos pertencem às crianças, os médios aos casados e adultos e os pequenos aos velhos. Mas às vezes também as crianças e os jovens têm apenas um pequeno círio.
– Deixa-me ver o meu, – disse o médico, esperando que estivesse ainda bastante grande. A Morte indicou-lhe um toquinho bruxuleante, que ameaçava apagar-se e disse:
– Olha, aqui está ele.
– Ah, querida madrinha, – disse o médico apavorado, – acende-me outro! Faze-o por mim que sou teu afilhado, a fim de que possa gozar a vida. tornar-me rei e casar-me com a linda princesa!
– Não posso, – disse a Morte; – é preciso que se apague um círio antes de acender outro.
– Põe, então, o velho sobre um novo para que continue a arder mesmo depois de acabado o primeiro, – suplicou o médico.
A Morte fingiu atender o seu pedido e apanhou um círio grande e novo; mas, querendo vingar-se, fez que juntava um ao outro e, propositalmente, atrapalhou-se; o toquinho caiu-lhe das mãos e apagou-se. No mesmo instante, o médico tombou morto: ele também caíra nas garras da Morte.

 

 



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