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03:20 | 27/06/2019

Houve, uma vez, um rei que tinha três filhos; os dois primeiros eram sabidos e inteligentes, mas o terceiro era muito calado e simplório, tanto assim que ficou sendo denominado: João Bôbo.
Estando já velho e adoentado, e temendo um fim próximo, o rei achou que devia escolher qual dos três príncipes deveria subir ao trono depois de sua morte. Chamou os filhos e disse.
– Meus filhos, estou velho e doente. Quero, pois, garantir a sucessão ao trono. Ide viajar; aquele de vós que me trouxer o mais fino e delgado tapete, esse será o herdeiro do trono depois que eu morrer.
E, querendo evitar qualquer desavença entre eles, conduziu-os em frente ao castelo, e soprou três plumas para o ar, dizendo:
– Cada qual deve seguir o voo de uma dessas plumas.
A primeira pluma voou para oriente, a segunda para ocidente e a terceira voou em linha reta mas caiu por aí mesmo. Em consequência disso, um dos filhos seguiu para oriente, o outro para ocidente, rindo-se de João Bobo, que não tinha direção alguma a tomar e devia ficar aí mesmo, onde caíra a terceira pluma.
Muito triste com sua pouca sorte, João Bôbo, sentou-se no chão, muito melancólico e, de repente, notou que perto da pluma havia um alçapão; ergueu a tampa e viu que dava para uma escada. Desceu por essa escada e chegou diante de uma porta, na qual bateu três pancadinhas. Imediatamente soou uma voz, dizendo:

– Donzela verde e pequenina:
Vai depressa abrir a porta.
Deixa-me ver logo,
se quem está lá
é o cãozinho Perna Torta!

Abriu-se a porta e João Bôbo entrou; viu a Rainha Rã. velha e gorda, sentada e tendo a rodeá-la numerosas rãzinhas pequeninas. A rainha perguntou ao príncipe o que desejava.
Ele respondeu:
– Estou à procura do mais belo e fino tapete do mundo.
A rainha chamou uma donzelinha e disse:

– Donzela verde e pequenina,
levanta-te do chão
e vai depressa, bem depressa,
buscar minha caixa de xarão.

A rãzinha foi buscar a caixa, a rainha abriu-a e tirou de dentro dela um magnífico tapete, tão fino como não havia igual no mundo e deu-o a João Bôbo. Este agradeceu o presente e tornou a subir pela mesma es-
Os dois irmãos maiores achavam que o menor, bobo como era, jamais conseguiria encontrar algo que prestasse e disseram:
– Para que preocuparmo-nos tanto a procurar!
Com modos violentos, tomaram à força o pobre xale da primeira pastorinha que encontraram e levaram-no ao rei. Nisso chegou, também, João Bôbo, com um precioso tapete. Quando o rei viu os três, não pôde deixar de encantar-se com a beleza do que lhe apresentava o filho menor e exclamou:
– É de toda justiça que o trono pertença ao mais moço, pois foi ele quem trouxe o tapete mais fino e mais bonito.
Mas os filhos mais velhos protestaram e não davam sossego ao rei, dizendo:
– Meu pai, é um verdadeiro absurdo entregar a direção do reino a um bobo como nosso irmão. Pedimos que nos proponhas outra condição. O pai, então, disse:
– Aquele dentre vós que me trouxer o mais belo anel, esse será o herdeiro da coroa.
Levou, novamente, os filhos diante do castelo e soprou as três plumas para o ar, dizendo que deviam segui-las. Os dois maiores, como da outra vez, rumaram um para oriente, outro para ocidente, enquanto que a pluma de João Bôbo, voando em linha reta, foi cair outra vez perto do alçapão. Ele, que já conhecia o caminho, desceu a escada, foi ter com a Rainha Rã, pedindo-lhe que o ajudasse a descobrir o mais belo anel do mundo. A rainha mandou buscar a caixa de xarão, donde tirou um anel maravilhoso, todo cravejado de pedra preciosas, tão lindo que nenhum ourives da terra seria capaz de fazer igual.
Entregou-o a João Bôbo, dizendo:
– Eis aqui o anel mais belo, não encontrarás igual no mundo.
Os irmãos maiores foram-se caçoando de João Bôbo, certos de que o pobre iria procurar um simples anel de ouro e não se preocuparam a encontrar o que deviam levar. Limitaram-se a arrancar um aro de uma velha lança de coche e levaram-no ao rei. Quando chegaram ao palácio, chegou também João Bôbo e os três, a um só tempo, apresentaram os anéis trazidos. O rei examinou-os e disse:
– Não há dúvida; o anel do mais jovem é o mais belo; portanto, o trono pertence-lhe.
Os mais velhos, porém, não se conformaram e tanto atormentaram o pai que este propôs uma terceira condição.
– Aquele que trouxer para casa a noiva mais linda, esse será o herdeiro do trono.
E, novamente, soprou para o ar as três plumas, que voaram como das outras vezes. João Bôbo foi pela terceira vez procurar a Rainha Rã à qual disse:
– Tenho de levar para o palácio a noiva mais bela do mundo; ajuda-me a encontrá-la.
– Arre! – disse a rainha, – logo a mais bela do mundo! Não está assim ao alcance da mão! Para qualquer outro seria dificílimo, mas para ti conseguiremos a noiva mais linda do mundo!
Deu-lhe em seguida uma cenoura oca, à qual estavam atrelados seis camundongos. João Bôbo, muito desapontado e sem saber o que significava aquilo, disse:
– Que farei com isso?
A rainha respondeu:
– Pega uma das minhas rãzinhas verdes e ponha-a dentro da cenoura.
Ele pegou, ao acaso, uma dentre as que circundavam a rainha; sentou-se dentro da cenoura amarela e, imediatamente, viu-a transformar-se na mais formosa dama do mundo, ao mesmo tempo que a cenoura se transformava num coche maravilhoso e os seis camundongos em seis belíssimos cavalos brancos. E lá se foi João Bôbo na carruagem, em carreira vertiginosa para o palácio, radiante de felicidade.
Logo chegaram, também, os irmãos que, não se dando ao trabalho de procurar uma noiva bonita, vinham acompanhados de duas simples camponesas encontradas
O rei, vendo as três moças, disse:
– O mais jovem continua em primeiro lugar, é a ele que cabe o trono.
Mas os filhos mais velhos não concordaram e continuavam a atordoar os ouvidos do pai com queixas e protestos.
– Não podemos permitir que João Bôbo governe o reino!
E exigiram que fosse dada a preferência àquele cuja mulher pudesse saltar por dentro de um arco pendurado no teto, no centro da sala, pensando com seus botões: “As camponesas estão habituadas a exercícios fortes e conseguirão facilmente, ao passo que salto tão grande poderá matar a frágil daminha.”
O rei concordou e tudo foi preparado para essa última e decisiva prova. Primeiro saltou uma das camponesas, mas tão desajeitada que caiu e quebrou o nariz; depois saltou a outra e estatelou-se no chão partindo braços e pernas. Por fim, chegou a vez da linda daminha que viera com João Bôbo. Com graça extrema e com a agilidade elegante de uma gazela, saltou através do arco com rara perfeição, sem quebrar coisa nenhuma.
Isso punha fim a toda contenda e o rei disse:
– Agora chega de provas; o trono cabe de direito ao mais jovem. Está decidido.
Não demorou muito e o rei faleceu; então João Bôbo subiu ao trono junto com a mais linda rainha do mundo. Foram muito felizes e tiveram muitos filhos, sendo o reino governado com grande prudência e sabedoria.

 



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