Houve, uma vez, dois irmãos, um rico, chamado José e o outro pobre, chamado João. O rico não dava nada ao pobre; este vivia em grandes apuros, e procurava manter-se com a venda de cereais. Geralmente, porém, os negócios lhe corriam tão mal, que muitos dias não tinha sequer pão para a mulher e os filhos.
Certo dia, quando atravessava a floresta na carroça, viu de repente uma grande montanha árida, sem nenhuma vegetação; como nunca a tivesse visto antes, deteve-se a contemplá-la, muito admirado. Estava ainda parado a olhar boquiaberto para ela e, de súbito, viu aproximarem- se doze homenzarrões de aspecto feroz; julgando tratar-se de bandidos, mais que depressa guiou a carroça para o meio do mato próximo para ocultá-la, depois trepou numa árvore e ficou aguardando os acontecimentos. Os doze homens, entretanto, haviam chegado diante da montanha e disseram:
– Abre-te, Sésamo, abre-te!
No mesmo instante aquela montanha árida e enorme abriu-se ao meio; e os doze homens precipitaram-se um após outro dentro da abertura. Depois a montanha tornou a fechar-se.
Não demorou muito tempo e João viu a montanha abrir-se novamente e dela saírem os doze homens carregando pesados sacos às costas. Quando saíram todos, disseram:
– Fecha-te, Sésamo, fecha-te!
A montanha fechou-se tão bem, que não se lhe percebia a menor fresta; e os doze homens foram-se embora.
Assim que desapareceram ao longe, João desceu da árvore, cheio de curiosidade, querendo saber qual mistério se ocultava naquelas entranhas.
Tendo decorado as palavras que ouvira, colocou-se diante da montanha e disse:
– Abre-te, Sésamo, abre-te!
Coisa estranha; a montanha abriu-se, também, diante dele! Sem hesitar e sem sombra de medo, João entrou pela abertura e logo deparou com imensos tesouros lá ocultos. A montanha era toda uma caverna imensa, repleta de ouro e prata; nas partes laterais havia montões de pérolas e pedrarias faiscantes, amontoadas como grão de trigo.
João quedou-se boquiaberto; não sabia o que devia fazer, se apanhar ou não um pouco daquela fabulosa riqueza. Por fim decidiu-se: apanhou quanto ouro podia carregar, mas sem tocar nus pérolas e pedras faiscantes Depois saiu e disse à montanha:
– Fecha-te, Sésamo, fecha-te!
A montanha fechou-se hermeticamente. João subiu na sua carroça e voltou, rapidamente, para casa.
Agora não precisava mais preocupar-se com dificuldades; com aquele ouro podia comprar pão e, também, vinho para mulher e filhos. E ia vivendo honestamente, muito satisfeito, socorrendo os pobres e fazendo todo o bem que podia aos necessitados.
Quando o dinheiro chegou ao fim, ele foi à casa de seu irmão José, pediu-lhe emprestado o alqueire e foi buscar mais ouro na montanha. Apanhou quanto coube no alqueire, mas não tocou nas pérolas e nas pedrarias.
Este ouro também chegou ao fim e então, pela terceira vez, decidiu ir buscar mais. Tornou a pedir emprestado o alqueire de seu irmão, mas este, que já o vinha observando admirado, sentiu a inveja roer-lhe o coração ante a riqueza e o bem estar que agora desfrutava, não atinando de onde lhe pudesse advir aquela fortuna. Como não sabia o que o irmão ia fazer com o alqueire, premeditou astuciosamente uma cilada e besuntou o fundo da medida com pez.
Quando o alqueire lhe foi restituído, no pez ficara grudada uma moeda de ouro. Dirigiu-se imediatamente à casa do irmão e perguntou-lhe:
– Que é que mediste com o meu alqueire?
– Trigo e cevada, – respondeu João.
José, então, mostrou-lhe a moeda de ouro e ameaçou denunciá-lo à justiça se não contasse a verdade. João não teve outro recurso, se não revelar-lhe tudo o que acontecera.
Cheio de ambição, José inundou imediatamente atrelar um carro e foi à floresta, decidido a aproveitar melhor a ocasião e trazer para casa tesouros bem maiores. Portanto, ao chegar diante da montanha, disse:
– Abra-te, Sésamo, abre-te!
A montanha abriu-se e ele precipitou-se dentro dela, desejando carregar o mais que pudesse. E aí tinha diante dos olhos aqueles imensos tesouros que o fascinavam; durante algum tempo ficou a olhar embasbacado, quase sem fôlego, sem saber o que apanhar primeiro. Finalmente, decidiu-se e apanhou tantas pedras preciosas que mal podia carregar. Em seguida, apressou-se em sair com a preciosa carga. Mas tendo coração e pensamento completamente fascinados pelos tesouros, não conseguiu mais lembrar o nome da montanha. E foi dizendo:
– Montanha Simeli, abre-te! montanha Simeli, abre-te!
Não sendo, porém, o nome certo, a montanha não obedeceu e manteve-se fechada. Ele, então, ficou apavorado; quanto mais pensava, mais se lhe baralhavam as ideias e nem todos os tesouros juntos podiam vir em seu auxílio.
Assim chegou a noite; então a montanha abriu-se para dar entrada aos doze homens que, vendo-o ali, puseram-se a rir, dizendo:
– Ah, seu malandro! até que enfim te pescamos. Julgas, talvez, que já não tínhamos notado que aqui estivestes três vezes. Não nos foi possível pegar-te antes, mas desta vez daqui não sairás mais.
José, tremendo de medo, pôs-se a gritar:
– Não fui eu, foi meu irmão!
Mas gritou e implorou inutilmente. Aqueles homenzarrões não lhe deram atenção e deceparam-lhe a cabeça.
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